quarta-feira, 6 de agosto de 2008

CLAMOR

O Silêncio e a Escuridão há muito haviam dado as mãos.
Eram companheiros constantes e inseparáveis. Alojaram-se no frágil coração.
Nem sempre ele, o coração fora assim: em outras eras, imperava nele, a Força,
que aos poucos, partiu pela falta de alimento que ali havia.
Ainda bem escondidos em recantos secretos, havia tênues vestígios de cor,

mas eram percebidos apenas pelo fraco pulsar, como o leve piscar de um olho sonolento.
A Inércia era quase total, e a Vida estagnara no Relógio do Tempo.

Tornava-se primordial salvar o coração, antes que o último fio da Esperança rompesse pressionado pelo peso do Desalento.
A Alma compadecida resolveu intervir, e com sussurrante voz de quem quase se cala,
pôs-se a chamar. Sabia ser difícil, quase impossível ser ouvida, pois seu clamor até para si própria, soava inaudível.
O Silêncio era duro, inquebrável, e com a Solidão, sua companheira,

fechavam o círculo do olhar da Esperança, que jazia ali, agonizante.
A Pureza, compadecida, resolveu ajudar e entregou ao Pedido,
um Suspiro impregnado de Intenções.
E lá se foi o frágil Apelo, levado pela generosa Brisa do Afeto, que compadecida da Inocência, levou-o com todo cuidado em sua mão.

Muito suavemente seguiram...
Então a Brisa se fez pressa e transmutou-se em vento.
Atravessaram planícies, desertos e mares.

Alimentado pelas belezas que de relance seus olhos banhavam, nas asas do amigo Vento, a branda voz da Alma, antes sussurro foi ficando forte. Em pouco tempo já se fazia sentir em todo Cosmos.
E ele, Fértil Solo, por ela esperava há tempos.

Recebeu-a como um pulsar, mas ouviu-a em seu coração como anunciantes trombetas,
a sonoridade das flautas e o estrondo de mil tambores.
Estava pronto! Esperava por esta missão.

Trazia em si a Luz de outros Sóis, fulgurante como espadas de fogo.
Era Guerreiro do Amor maior, trazia as glórias de tempos distantes
e a compreensão do Futuro já antes visto, pelos olhos da Sabedoria contida na magia de seu místico Dom.
E estendendo a mão, aquecida pela Bondade, superou a temerosa e cruel distância, entrando no frágil coração. Lá estava, escondida como um espectro, a Harpa da Vida, que ele: hábil compositor se pôs a dedilhar.
Pequenas estrelas caíam, como lágrimas quentes, jorrando da fonte morta.
E as damas, há tanto inertes em sono profundo: Esperança, Beleza e Crença; com um perfumado bocejo de serenidade, esquecidas do torpor da dor, ergueram-se e puseram-se a bailar.

[MOMMENTUM AD INFINITUM]

Um comentário:

Anônimo disse...

Que grata satisfação, ver um dos meus "filhinhos", adornando seu blog. Obrigada, de coração, por postá-lo. Um grande abraço